Neste décimo quinto domingo do tempo comum nos é colocada diante dos olhos a parábola do Bom Samaritano. É um texto com diversos personagens e o nosso desafio é reconhecer quem somos e quem deveremos ser.
O texto é Lucas 10, 24-37, e vamos considerar para nossa reflexão á interpretação de Orígenes, Padre da Igreja primitiva sobre o relato: “O homem que descia é Adão, Jerusalém o paraíso, Jericó, o mundo; os ladrões são os poderes inimigos, o sacerdote a lei, os levitas os profetas, o samaritano é Cristo; as feridas são as desobediências; o jumento, o corpo de Cristo; a hospedaria que acolhe a todos os que querem entrar é a Igreja; os dois denários são o Pai e o Filho; o dono da hospedaria é o pastor da Igreja a quem é confiada a cura; o fato que o samaritano promete voltar lembra a segunda vinda do Salvador” (Orígenes, Hom. In Lc. 10).
Somos num primeiro momento Adão, ferido no mundo por conta de nossas desobediências, destinados ao paraíso, porém, sem condições de alcança-lo com as nossas próprias forças, fomos roubados pelo poder do inimigo que são os nossos pecados, mas Jesus, o Bom Samaritano veio nos salvar, veio cuidar de nós e confiar á Igreja a restauração de nossa dignidade de filhos de Deus. O Senhor se aproximou de nós em sua misericórdia e cuida de cada um de nós através da Igreja.
Mas, é preciso que em nossos corações surja o reconhecimento de que somos como os profetas que se distanciaram da vontade de Deus e também os sacerdotes que conforme o texto vivem uma religiosidade legalista, mas sem vida interior. Não podemos nos esquivar de buscarmos contritamente admitir que muitas vezes não acudimos, não nos aproximamos de irmãos nossos que também sofrem na Jericó atual.
Por fim, somos até mesmo o doutor da lei que não é capaz de compreender quem é o nosso próximo: “Quem é o meu próximo?” (29b). Eis um ponto central que essa parábola quer converter em nós. É preciso que tenhamos o entendimento de que o próximo é o outro, sem nenhum limite de quem seja, como esteja, se é ou não alinhado com os nossos ideais cristãos. Sim todos são os nossos próximos, até quem nos contraría e persegue. O próximo enfim, é aquele á quem nos fazemos próximo, e não podemos permitir distâncias de ninguém, somos chamados à sermos canais da salvação á todos, a nos aproximarmos de todos, sobretudo de quem está na escravidão do pecado, nas situações de sofrimentos do mundo.
Ao nos revelar como o Bom Samaritano age, Jesus nos ordenar: ” Vai e faze o mesmo” (37d). Em tempos em que se defende abertamente o pseudo direito de ficarmos longe de “quem nos faz mal”, temos que entender que a nossa guerra não são contra homens de carne e sangue, não podemos considerar o próximo como inimigo, ainda que ele assim nos veja, temos que dele nos aproximar para na proximidade transmitir o perdão e o amor salvador que recebemos para doar, não para reter. Se considerarmos o próximo só aquelas pessoas á quem afeiçoamos, que sofrem, mas não nos fazem mal, não iremos agir como o Senhor nos ordena. Jesus nos esclarece que o amor ao próximo não pode ter restrições: “se amais aqueles que vos amam que prêmio mereceis?” (Mt 5, 46).
Temos que nos aproximarmos uns dos outros, em especial daqueles que vermos que estão com mais dificuldades conosco, também daqueles que são contrários aos nossos ideais. Vamos alargar nosso olhar á todos os que nesse mundo ainda não nos tornamos próximos na prática e fazermos o que a Palavra de Deus nos ordenar hoje.
Texto: Emerson Alves