Como ser sal da terra?

O versículo que irá inspirar nossa reflexão assim nos diz: “Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”. (13). Na Sagrada Escritura, o sal é símbolo da fidelidade Divina, e é preciso assimilar a ação amorosa e fiel de Deus para transmiti-la genuinamente.

O mistério Pascal de Jesus é o que deu sabor ao mundo, se não fosse a encarnação, paixão, morte e ressurreição do Senhor, tudo nesta nesta vida seria sem sabor, fadado á corromper-se pelo pecado continuamente. Quando Jesus se aproxima de nossa realidade e assume nossa humanidade, nossa vida ganha sabor de céu, sabor de eternidade.

O sacramento do batismo nos introduz na vida cristã. Em Cristo somos adotados na condição de filhos de Deus, nos tornamos cristãos, ou seja, Nele, também nos tornamos sal da terra. O nosso desafio como discípulos de Jesus consiste em conservar a graça da fidelidade do Senhor em nós, e, em testemunhá-la com as nossas obras.

Todavia, é importante nos perguntarmos: como ser sal no cotidiano, em meio aos contextos atuais de crise na família, na sociedade, e de certa forma, até em ambientes eclesiais?

Assumir com consciência nosso batismo é o ponto de partida. Existe um risco de imersos na realidade do mundo, esquecermos que somos cidadãos do céu, de não cultivar nossa identidade de filhos de Deus, de cristãos. É triste, mas é possível não entendermos que fomos transladados da morte para a vida, por meio do sacrifício de Jesus Cristo. Por isso, exercitar a fé recebida no batismo através da oração, da busca diária por contemplar a face de Deus é uma forma de renovar nossa condição de consagrados por meio do batismo. Para ser sal da terra é preciso viver ciente de que estamos no mundo, mas que não somos dele, e o que preserva nosso sabor, nosso testemunho autêntico duma cristã, é a renovação contínua do encontro com Deus, é conhecê-lo cada dia mais.

Alimentar-se da Sagrada Escritura diariamente, é um meio eficaz de se assumir como sal. Quem não se alimenta do pão da Palavra, pode vir a ingerir alimentos corrompidos pelas ideologias mundanas. É sabido de que quimicamente, o sal pode corroer grilhões. E, a Palavra de Deus é o que nos liberta da corrupção deste mundo, nos fortalece para que, não obstante, nossas fraquezas e pecados, possamos sempre recuperar o gosto de uma vida de Deus, por meio da reconciliação.

Ser sal, se traduz ainda por assumir a luta cotidiana contra o homem velho, contra o egoísmo, é superar a indiferença diante da necessidade do próximo que sofre, significa fazer a diferença na vida dos outros de maneira cristã. Significa promover nossos semelhantes através dos valores do Reino definitivo, sobretudo, os pobres e marginalizados. O amor mundano é insosso, está sempre á procura de recompensas, de elogios, de destaques, aprisionado pela escravidão da auto imagem. Manter o sabor de eternidade e ser sal na terra é servir sem procurar consentimentos humanos, sem procurar ser servido, é se enxergar como um servo inútil, que sabe que Deus não precisa dele para salgar, porém, quis contar com ele, como forma de amá-lo, e por isso procura servir ao Senhor com gratidão, alegria e amor.

Que o Espírito Santo, recebido quando fomos batizados renove em nós a graça de vivermos voltados para o céu, de termos desejo de levar nosso próximo para a vida de Deus, pois, esta é a forma mais clara de sermos sal da terra.

Texto: Emerson Alves