Assim começa a narrativa do Evangelho desse 25° domingo do tempo comum: “Com efeito o Reino de Deus e semelhante há um Pai de família, que saiu de madrugada para contratar operários para sua vinha.” (Mt 20,1) por esse primeiro versículo, pode se perceber que se trata de uma parábola. Podemos chamar de parábola dos trabalhadores da vinha, ou do proprietário da vinha, ou, ainda, do patrão generoso. É difícil atribuir-lhe um título adequado. O mais importante, no entanto, não é a atribuição de um título, mas a assimilação da sua rica mensagem.
Essa é mais uma “parábola do Reino dos Céus”. Porém, é importante
recordar que uma parábola é sempre uma comparação, e não
propriamente a descrição de uma realidade, nessa parábola vamos
destacar, embora breve, três pontos: O Reino de Deus, a vinha, os operários
da vinha. As parábolas apresentam imagens comparativas do Reino, e não
descritivas. Como o Reino consiste em um mundo novo, uma sociedade
alternativa, completamente diferente das sociedades humanas até então
experimentadas, ele não pode ser descrito, uma vez que ainda não fora
experimentado.
Em relação ao protagonista da parábola, ao invés do termo patrão,
como traz o texto do lecionário, é mais adequada a expressão “pai de
família”, que se encontra na Bíblia Ave-maria uma imagem mais suave e
mais fiel ao termo empregado pelo evangelista na língua original. Deus é
esse pai de família que cuida pessoalmente de sua Vinha. Ele sempre
relacionou com seu povo como o Dono da Vinha (cf Is 5,1-7) A Igreja, a
comunidade dos batizados é essa vinha, que o Pai do céu cuida
pessoalmente. É ele que levanta de madrugada para contratar operários
para a colheita. O Pai de família não coloca na mão da equipe de RH a
contração de operários, ele também não exige currículo dos candidatos,
chamam os que estão disponíveis para o trabalho.
Geralmente em um filme, os atores que mais aparecem em cena, são
o ator protagonista e o coadjutor. Se a parábola fosse uma filme, nos
teríamos dois cenários, a vinha e a praça, o Pai de família o ator
protagonista e os operários os coadjutores
O Pai de família passou de 6:00 horas da manhã, as 18:00 horas
fazendo esse trajeto entre a vinha e a praça; fazendo a interlocução entre a
demanda da colheita e quem necessitava do trabalho. Ele fazia isso por
amor a vinha e por amor aos que estavam desempregados.
Todas as vezes que ele saia da vinha para praça, ele saia satisfeito
com o resultado da colheita, ele sabia que os operaios que estavam
trabalhando, estavam dando duro mesmo, mas ele olhava para a
quantidade de uvas que ainda precisavam ser colhidas, senão corria o risco
de apodrecer ou ser comida pelos pássaros. Quando chegava na praça,
sempre tinha homens desempregados.
O amor dele por sua vinha era tanto, que ele faz o incomum, contrata
os últimos operários faltando uma hora para encerrar o dia, contrata,
porque esses haviam de colher uvas que por certo iriam se perder
Enfim chegou a hora do pagamento! Só vamos entender a justiça do
Pai de família, se entendermos o contexto da parábola. Para isso
precisamos voltar no episódio do Jovem Rico, ele não quis saber do tesouro
que estava no céu, estava apegado aos privilégios terrenos. Quando o
Jovem foi embora, Jesus começou a falar para os discípulos sobre o perigo
do apego as riquezas, foi quando Pedro perguntou: “Eis que deixamos tudo
para te seguir. Que haverá então para nós?” (Mt 19,27) Pedro também
estava de olho nos privilégios. Jesus promete recompensa, mas não
privilégio.
Por esse motivo ele paga a todos, começando dos últimos para os
primeiros, o que foi combinado, um denário por dia. Os operários da
primeira hora acharam ruim, não entenderam a lógica, queria ter privilégio
em relação aos outros. Os trabalhadores da Vinha hoje, precisam entender
uma coisa. O critério para fazer o pagamento da recompensa não é
meritório, ele paga aos últimos o mesmo valor que combinou com os
primeiros, porque ele é bom! A satisfação do Pai de família é ver que todas
a uvas foram colhidas, porque todos trabalharam.
“Ide, pois, vós para minha vinha, que vos darei um salário justo” (Mt
20,4
Texto: Vitório Evangelista