Há um domingo atrás, tivemos a oportunidade de ouvir que não podemos apresentar nossas oferendas diante do altar, sem antes termos praticado a reconciliação contra aqueles que tenham alguma coisa contra nós. E, que se não entrarmos num acordo com o nosso adversário, estaremos atraindo nossa condenação. A inspiração para a nossa reflexão de hoje de certa forma é uma continuidade do que ouvimos, mas, Jesus através da nos convida a dar um passo mais aprofundado: “Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!” (44).
Ao nos depararmos com esta ordem, neste 7° domingo do tempo comum (19), pode surgir a tentação de distanciarmos nossos corações desta meta, e a considerarmos algo impossível. Não faltam pessoas que queiram zombar da Sagrada Escritura e dos cristãos precisamente por este versículo. Amar os inimigos, rezar por aqueles que perseguem e reconciliar com o adversário, eis o caminho a trilhar se quisermos ser filhos de Deus e não nos condenarmos.
Quem é o adversário que caminha conosco e com o qual precisamos reconciliar? É um ledo engano pensarmos que são os nossos próximos. O termo adversário, dito no Sermão da montanha, se refere ao próprio Cristo. Ele é o totalmente Outro, O diferente, diverso de nossa realidade, á quem precisamos nos unir, e que no dia do juízo poderá nos julgar, pois, seremos julgados pela Palavra. E o confronto necessário neste sentido deve ser: até qual ponto ainda sou adversário, distante, diferente da Pessoa de Jesus?
Na oração do “Pai nosso”, o Senhor nos ensinou a rezar: “Perdoai as nossas ofensas, como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Pedir e não viver esta súplica, significa assumir que não queremos receber o perdão Divino. Ao sermos ordenados á amar os inimigos, outra tentação que pode surgir é de repetirmos os hebreus: “esse discurso é muito duro, quem poderá compreender?” (Jo 6, 60). É Jesus quem nos diz através de São Mateus 6,14-15. “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará”. A falta de perdão á quem tem alguma divergência conosco, nos mantêm afastados de Jesus, faz com que nos comportemos como seus adversários, como pessoas que não tenham nada da vida de Deus.
Perdoar é amar duas vezes. No primeiro sentido, diz respeito ao chamado que temos de nos deixarmos ser reconciliados com Deus mediante a oferta de seu perdão. A outra, revela em qual medida o perdão Divino foi bem assimilado. No calvário, ao nos perdoar, Jesus nos reintroduz na comunhão com a Trindade, nos toca com a essência Divina para nos transformar e capacitar para amar como Deus ama. O Senhor nos amou e nos ama e os nossos pecados nos tornam inimigos de Deus. O amor e o perdão de Jesus nos translada de inimigos para amigos.
O pecado nos faz inimigos de Deus. São Tiago ensina: “Todo aquele que quer ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”. (Tg 4,4). Aos romanos, São Paulo disse: “Se, quando éramos ainda inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, com muito mais razão, estando já reconciliados, seremos salvos por sua vida” (Rm 5,10). O perdão de Jesus na cruz do calvário nos converte de inimigos em amigos do Senhor. E, é justamente a amizade, a intimidade com Ele que nos impele á agirmos em consonância com os seus gestos concertos.
O exercício pleno do perdão, faz com que, ao invés de enxergar quem nos persegue, como sendo nossos inimigos, possamos vê-los como irmãos, mesmo que sejam irmãos que não conheceram a Pessoa de Jesus. Certamente não é uma tarefa fácil e simples de praticada. Devemos admitir que é quase um milagre. Mas, graças a Deus recebemos o Espírito de Cristo, o Espírito Santo que impulsionou Jesus em sua humanidade, mora em nós e quer nos transformar em autênticos cristãos e capacitar para feitos tão nobres.
Quais passos concretos podemos dar para vermos o Espírito de Cristo fluir em nós e conseguirmos amar como Cristo e rezar por quem nos perseguem?
1° Assumirmos a presença do Espírito Santo em nós. É Ele quem nos convence de nossos pecados. É a graça do Espírito Santo que nos moverá para buscar o perdão de Jesus. É a ação do Espirito que remodela, nos assemelha ao Cristo. Ele é o selo do amor Divino e nos inspira a amar como Deus, a procurarmos a perfeição no amor como amigos de Jesus.
2° Rezar com o auxílio do Espírito Santo. Ainda que admitindo nossas dificuldades em amar e perdoar, seja pelo reconhecimento de que a ofensa do outro ainda dói, mas, á entregando a Deus, deixando que o amor recebido de Jesus nos cure. É preciso rezar e tomar a decisão de deixar-se perpassar pelo amor de Jesus.
3° É preciso sair de nós mesmos e buscar vivenciar a conversão de forma plena, nos assumirmos como cidadãos do céu, como cristãos. Vamos cair e levantar muito neste sentido, teremos dificuldades, mas, o importante é perseverar. Podemos ter que voltar a perdoar mais de uma vez por conta da mesma ferida, porém, o progresso da assimilação da vida de Cristo em nós pressupõe a renovação diária da experiência do amor do Senhor. De encontrá-lo, de procurar a cura até atingirmos a estatura do amor de Cristo aos nossos inimigos.
Texto: Emerson Alves