Hoje, (21/05) é dia da Solenidade da Ascensão do Senhor, e precisamos compreender o que a liturgia da Palavra nos convida a celebrar e a transportar para o nosso cotidiano. Nossa reflexão se inspirará no mandato que recebemos de Jesus: “Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei!” (19-20a). Nós não iremos discorrer sobre o sentido sacramental do envio, de irmos batizar quem ainda não tenha sido. Embora saibamos que são milhares e milhares. Queremos refletir sob o aspecto do envio que recebemos de Jesus de expandir a presença do Reino definitivo.
Jesus, quando volta para junto do Pai, nos envia ao mundo, para nele, inseridos de maneira concreta nas mais diversas realidades do mundo, evangelizá-lo e transformá-lo com o testemunho de nossa comunhão com as Pessoas Trinitárias, e proclamar que todos somos chamados a ascese, até alcançarmos a vida plena.
Frente a tão excelsa missão, somos convidados a realizar dois sérios confrontos para examinar nossa consciência a luz da Palavra.
- A forma que vivemos é conformada a este mundo, ou o modifica, o melhora como autêntica manifestação do Reino? Sim, de forma prática, não devemos seguir a leitura sem olhar para nós mesmos, sem nos deixarmos questionar pela Palavra. Por onde passamos, o que fazemos, e sobretudo, o que somos sinaliza a nossa comunhão com o Reino dos céus?
- Será que quando nos apercebemos de nossas realidades, seja de lazer, vida conjugal, relacionamento com os filhos, ou como solteiros, independente do estado de vida, área profissional, ao olharmos nossa forma de nos postarmos na sociedade, constatamos em nosso ser, pelos hábitos, escolhas e sentimentos que estamos edificando o Reino?
O que confere credibilidade ao testemunho é a busca por viver todas as dimensões da vida apontadas para o céu, em comunhão com a vontade amorosa de Deus, todavia isso não admite nenhum divórcio com a missão que nos foi confiada de fazer crescer as sementes do Reino para a transformação da terra. Em nada nos adianta querermos cumprir nossas aspirações sem ter como parâmetro a perfeição anunciada por Jesus: “Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 48). É essencial que tenhamos como meta realizar a vontade do Pai ao nosso respeito, como Cristo nos revela.
Santificar-se, ir progredindo gradualmente no dia a dia, em meio às quedas e reconciliações precisa ser nossa motivação primeira, entretanto, não será verdadeira experiência de santificação se faltar, por exemplo, o comprometimento em encarar de frente os sofrimentos, as dificuldades e os desafios humanos. Se o nosso olhar estiver voltado ao céu, sem estar atento aos nossos problemas imanentes, iremos formar famílias alienadas, que não se aproximam do mundo para transformá-lo por dentro, que não se solidariza, especialmente, com os demais sofredores. Não dá termos famílias voltadas para o céu, sem abraçar o chamado de transformar as vidas e famílias de pessoas que estejam ao nosso lado. Sem aproximar-se delas, sem socorrê-las em suas necessidades.
A Solenidade da Ascensão nos mostra como que o capítulo final do mistério Pascal de Jesus, e o que nos é reservado no fim de nosso envio. O Senhor não ficou distante, alheio a realidade humana, ao contrário, tomou a nossa dimensão, nos salvou com o seu amor, nos abriu em si mesmo a vida eterna e nos envia com a missão de evangelizar, de implantar o Reino de Deus. A celebração de hoje quer chacoalhar nossa consciência, nos colocar de pé diante da responsabilidade de tornar o Reino palpável a todos os homens.
É urgente abraçar com alegria e esperança o seguimento de Jesus para que, diante de qualquer adversidade, incompreensões e das dificuldades para a carregar a cruz, mirar sempre o sentido da ascensão de Cristo. Ela manifesta áquilo que o apóstolo São Paulo, quando escreve aos romanos nos diz: “Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada” (Rm 8, 18). Essa deve ser nossa certeza, perseverando com fidelidade dinâmica no seguimento de Jesus, também provaremos da nossa subida aos céus.
Texto: Emerson Alves