A liturgia quer hoje nos inspirar a rezar sem esmorecer jamais, e vamos refletir sobre os auxílios que temos para alcançarmos tamanha graça. A primeira barreira a ser superada é da dúvida. Sim, estejamos como estivermos, é possível, sermos homens e mulheres que tenham uma vida de oração constante, e que isso chegue a espelhar-se em nossas vidas.
A leitura do evangelho de Lucas 18, 1-8, se inicia com as seguintes frases: “Naquele tempo, Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir, dizendo:
”Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, e não respeitava homem algum. Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: ‘Faze-me justiça contra o meu adversário!”. (1-2)
Ser viúva no contexto bíblico, significava não ter auxílio e nem valor nenhum, era ser alguém que para sobreviver, dependeria de ajuda até o fim de sua vida. Quando comparamos nossa condição humana, com o contexto de viuvez no judaísmo no tempo da vida pública de Jesus, somos convidados a refletir e entender que somos como a viúva, ou até com um estado mais grave, pois, dependemos de auxilio até para pedir ajuda. Temos adversários, que, se não procurarmos ajuda, não vamos vencer. E, a oração é o único meio de conseguirmos o auxílio oportuno. Porém, se a viúva da parábola, teve que recorrer a um juiz iníquo, temos a nosso favor, uma graça imensamente inigualável, o próprio Deus Pai de amor é o Justo juiz, e como advogados, temos o Espírito Santo e Jesus Cristo que não perdem nenhuma causa.
A primeira motivação para rezarmos sempre, deve ser, o princípio de que é através da oração que descobrimos o sentido de nossa existência que é viver como filhos de Deus! Quando o Senhor nos ensina, logo no início da oração, a chamar Deus de ‘Pai nosso’, está nos mostrando o que somos, e em que devemos nos alegrar, em nossa condição de sermos filhos de Deus. São Paulo, escrevendo aos Gálatas nos diz: Gálatas 4,6 “A prova de que sois filhos é que Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai!” A vontade amorosa de Deus é que nos relacionemos com a Sua Pessoa, da forma que somos e que Ele nos enxerga, com a nossa identidade de filhos.
A oração para ser permanente, tem que ser conduzida pelo Espírito Santo, precisa ser uma experiência de descobrir-se atraído, não pelos sentimentos, e por vezes, nem pela vontade, mas, sim pela confiança de que em seu amor, o Pai está a nos esperar, quer nos abraçar e justificar. Se é verdade que carregamos em nós o pecado original, que nos inclina ao mal, todavia, mediante o batismo, recebemos o Espírito Santo que nos move para as coisas celestiais, que clama dentro de nós, como que dizendo, só viveremos de verdade, se nos reconhecemos como filhos amados de Deus.
Alcançar a graça de ter uma vida de oração, pressupõe luta, especificamente, contra nossas inclinações ao pecado, contra o demônio e o mundo que jaz, (descansa) no maligno. São adversários duros de serem superados, e que sem o auxílio da graça, é impossível vencê-los. Contudo, temos a nosso favor o Espírito Santo e o próprio Jesus, nosso mediador. Na sua primeira epístola, o evangelista João nos ensina:
“Filhinhos meus, isto vos escrevo para que não pequeis. Mas, se alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”. (2,1).
A viúva recebeu a justiça por um juiz que não temia a Deus, temos ao nosso lado o próprio Deus, que exerce a justiça através da misericórdia. Irmãos, não podemos desanimar, não temos o direito de deixar de buscar a Deus, independente daquilo que somos ou vivemos no passado e no presente, pois, o Pai enviou Seu único Filho, que por meio de sua morte e ressurreição retirou o muro da separação, nos dotou com seu Espírito, que está mostrando o acesso ao encontro com Deus se deve a abertura a presença de Deus em nós.
Não devemos ficar presos nas fórmulas, é preciso rezar com liberdade, como um diálogo, e até como um dueto, deixar Deus Espírito Santo fale através de nós ao próprio Deus, em uma só voz. Não devemos ser escravos de palavras. Não devemos esperar, nem se restringir a rezar em lugares “oficiais”. É importante tê-los, mas, não podem ficar restritos a alguns lugares e tempos. Isso não significa improvisar a oração, porque fazê-la de qualquer forma, não seria oração verdadeiramente. O que importa é unir o coração a Deus, deixarmos nos convencer de que, de maneira livre, seja por palavras ou através do silêncio, até em lugares barulhentos podemos nos voltar para Deus. Rezar constantemente não deve ser entendido como ficar rezando o terço ou qualquer outra oração o dia inteiro, mas sim, cuidar de um momento exclusivo com Deus, que não necessariamente, precisa ser longo, mas que deve ser profundo ao ponto de atrair nossos corações nas demais atividades da vida.
Devemos chegar a compreensão de que nos abrindo a presença de Deus Espírito Santo e do Senhor Jesus que moram em nós, podemos constantemente rezar. Nem nossos pecados podem e devem nos impedir de termos uma vida de oração, ao contrário, mesmo as adversidades e nossas fraquezas espirituais devem ser oportunamente vistas como formas de nos
encontrarmos com Deus, que está sempre presente em nosso oratório, que são os nossos corações. Se, de nossa parte houver correspondência a graça, se nos decidirmos firmemente em estar continuamente com Deus, a própria graça de Deus nos educa a rezar sem cessar.
Texto: Emerson Alves