A liturgia deste 31° Domingo do Tempo Comum nos ensina o que, e como fazer uma profunda experiência de conversão. Hoje somos convidados a contemplar o episódio de Jesus com Zaqueu, pois, ao olharmos ao que este encontro nos chama, podemos entender o essencial para a nossa transformação.
Zaqueu, era chefe da alfândega em Jericó, tratava-se de um homem com notável riqueza. Em sua cidade, Jesus já havia realizado inúmeros prodígios, muitos milagres do Senhor despertaram em seu coração o desejo de vê quem era Jesus. Todavia, eram muitos os obstáculos que Zaqueu tinha diante dele. Como ao redor de Jesus se aglomerava uma grande multidão, sua baixa estatura era um dos impedimentos.
O texto nos diz que, mesmo tendo subido em uma árvore, ao invés de Zaqueu satisfazer sua curiosidade, é Jesus quem o vê primeiro. Se quisermos atingir a graça de uma autêntica conversão, a condição fundamental é reconhecer que o primeiro passo é sempre de Deus. É Ele que em seu invencível amor nos procura. Jesus era popular em Jericó devido os milagres que ali realizara, mas, como o Bom Pastor, deixa as 99 ovelhas, e se dirige ao que estava perdido. Zaqueu era odiado pelos habitantes de Jericó, pois, numa condição similar aos dos cobradores de impostos, era considerado um homem que estava ao serviço do império romano. Os hebreus os excluíam por isso, não era somente a estatura dele que era baixa, sua autoestima, quase não tinha alegria. Mesmo sendo rico, faltava-lhe o sentido da vida.
Quando o texto diz que Jesus o vê, podemos recordar do livro do Genesis, que o autor Sagrado diz que no início de tudo, Deus vê, contempla sua criação, á chama a vida e a declara como muito boa. Se os concidadãos de Jericó viam Zaqueu com descaso e desprezo, por conta de seu enriquecimento por conta de fraudes, Jesus Cristo, Deus encarnado, não o olha pelos seus pecados, mas sim, com o olhar gerador de vida, olhar transformador. Ao contemplar Zaqueu, o Senhor o ama, o acolhe, mesmo que este tivesse sido corrupto, o Senhor exerce com ele o que é próprio do Pai, oferecer sua misericórdia para que nenhum de seus filhos se percam.
Se quisermos empreender uma experiência de metanóia, uma conversão á exemplo de Zaqueu, temos que reconhecer Deus, na Pessoa de Jesus Cristo nos olhando. O Senhor nos vê, como que dizendo com o seu amor, eu os acolho, eu me identifico com vocês, também fui excluído, fui rejeitado, e em mim vocês encontram compaixão.
Conversão não é mudança de atitudes, de comportamentos apenas, nem mesmo devemos compreender como uma transformação fundamentada em mudanças morais, por mais que essas mudanças ocorram, a genuína conversão é a transformação do coração, é a libertação da escravidão do pecado e isso só é real quando a experiência profunda com o amor de Deus acontece, a conversão é verdadeira quando a graça salvadora do Senhor nos redime. Jesus foi cercado por uma multidão em Jericó, mas foi Zaqueu, e não os fariseus que receberam a visita de Jesus. Hoje o Senhor quer entrar em nossa casa, mas, se nós achamos em condições de nos julgarmos melhores que os outros, sem reconhecer que somos quem mais precisa de sermos transformados pelo amor Divino, ao invés de sermos agraciados, vamos ficar á margem da graça. Deus nos chama a reconhecermos que somos pecadores, somos profundos pecadores, somos as ovelhas perdidas de hoje, se assim cultivamos nossa fé, ela nos levará a conversão autêntica, pois, “Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”. (10)
Vivemos em tempos de receitas prontas, nos são oferecidos falsos fundamentos de mudanças morais, por vezes, até com críticas a única graça que é capaz de mudar que é o amor. Contudo, falar que a essência da mudança é o encontro amoroso com Deus não significa dizer que podemos ficar presos aos nossos pecados, ao contrário, se ao sermos olhados por Jesus, deixamos como Zaqueu seu olhar atingir nossos corações, seremos impulsionados a conversão como uma forma de correspondência ao amor.
Texto: Emerson Alves