Neste 23° Domingo do Tempo Comum, a liturgia nos apresenta o texto de Lucas 14, 25-33, e dele vamos nos inspirar para a nossa reflexão no versículo 33b “qualquer um de vós se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo”. A sabedoria do Evangelho quer nos impelir a não trocarmos o todo, que deve fundamentar nossa existência, e ficarmos apegados apenas a partes.
Jesus é o amor do Pai encarnado e ao ouvirmos hoje suas palavras dizendo-nos que devemos odiar, no sentido de desapegar-se de pai, mãe, filhos, irmãos e até da própria vida para sermos seus discípulos, isso não contradiz em nada sua essência Divino-amorosa. Mas, ao contrário, quer nos mostrar como viver o seguimento degustando o amor sem fim, que transcende verticalmente e horizontalmente todas as barreiras e cadeias de falsos preenchimentos que são oferecidos aos nossos corações.
O Senhor dá aos seus discípulos a graça de saborear sua presença amorosa e por isso os convida à escolha decisiva por aquilo que não passa. Para vivermos como discípulos temos que ter uma vida centrada em Deus, tendo-o como o único sentido da existência. Devemos amar a nós mesmos e aos membros de nossas famílias como meios de corresponder ao Amor Eterno que é o próprio Deus.
Assim sendo, devemos desfazer todo entendimento e finalidade de vida que em seu primado não esteja voltado para Deus. Evidentemente, há que se ter o equilíbrio à luz da Palavra de Deus e iluminados pelo Espírito Santo de compreendermos que o Amor a Deus e ao próximo são indivisíveis. Também, ter a clareza que não iremos amar a Deus que não vemos, se não amarmos o próximo que está ao nosso lado, ou ainda, segundo as palavras redigidas por Mateus “Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes”. (Mt 25, 40). O amor ao Senhor e ao próximo se retroalimentam, porém, seja o amor a Deus, e também o amor pelos irmãos, para serem verdadeiramente amor, devem partir do encontro com Deus e ter como fim último o amor ao próprio Deus.
O Evangelho de hoje nos chama a termos a coragem de superar e despojarmos de tudo que seja transitório para recebermos a sua graça eterna. Somos desafiados a não ficarmos presos ao amor que podemos experimentar no relacionamento com pai, mãe, filhos, irmãos, ou no desenvolvimento da própria vida com o risco de perdermos de vista que fomos criados em Deus, por Deus e para vivermos para sempre com Deus, que é eternamente amor.
Texto: Emerson Alves