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Itinerário da cura mais fundamental que precisamos

A liturgia da Palavra nos apresenta uma cura fulcral no ministério de Jesus. Na sinagoga de Nazaré, Ele  declara: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu…” (Lc 4, 18ss). Dentre vários sinais, um bastante central é justamente a restauração da vista. O Evangelho de hoje (19) está em João 9, 1-41, e nos conta que o homem, depois de receber a cura dá testemunho vivo de que sua cura era um sinal messiânico, que serviria para identificar Jesus como o enviado de Deus: “Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se esse homem não fosse de Deus, não poderia fazer nada”. (32-33). Ao percorrer este texto, vamos compreender a forma e o porquê Cristo veio abrir os olhos de todos os homens.

A narrativa começa por dizer-nos: “Caminhando, viu Jesus um cego de nascença”. Por ser um homem sem nome, logo podemos considerar que representa toda a humanidade. Na tradição bíblica, o sofrimento mais terrível consistia em não poder ler a Palavra – a Torá. Era mais difícil do que uma dor física, pois, o que os judeus mais se admiravam era precisamente colocar os olhos nas letras que Deus escreveu com suas mãos. Não poder olhar as tábuas da Lei significava ficar privado do Sagrado.

O autor Sagrado no início da criação, no livro de Gênesis 3, 4-7, nos conta como nossos primeiros pais perderam a capacidade de enxergar a glória de Deus. Entretanto a serpente prometeu cumprir, de fato os seus olhos se abriram, mas paradoxalmente, se fecharam também. Enganados pelo demônio, querendo ser como Deus, ao tentarem ocupar o lugar do Senhor, viram que estavam desprovidos da graça Divina. O pecado era o véu escuro sobre seus olhos e em consequência, não puderam mais contemplar claramente com os próprios olhos a luz de Deus que passeava todas às tardes no Jardim do Éden.

Jesus, ao mandar o homem sem visão lavar-se na piscina de Siloé, apresenta o itinerário de cura. O termo Siloé, no próprio texto, recebe seu significado: enviado, emissário. Ou seja, o Senhor é o enviado do Pai, que veio tocar nos olhos de Adão, para que pelo encontro com o perdão Divino em Pessoa, seja recriado, redimido, seja livre do véu do pecado. A cura deste cego é de certa forma a prefiguração de todos os batizados, que enxertados no mistério Pascal, são transladados das trevas para a luz da fé. É eloquente a explicação que Jesus nos dá: “Eu vim a este mundo para fazer uma discriminação: os que não vêem vejam, e os que veem se tornem cegos” (39). Quem quer enxergar a Deus, a si, ao próximo e ao mundo com os olhos da carne fica impedido do olhar espiritual, de ver a Deus; quem não lança um olhar carnal, para as mesmas realidades, mas, procura ver com os olhos da fé, com os olhos do coração, do amor, enxerga claramente a identidade de Deus e a própria identidade.

A nossa cura se inicia com a confissão de nossas cegueiras. Somos míopes por conta do afastamento da contemplação Divina. Sempre que teimamos em enxergar as realidades do mundo somente com o olhar carnal, com os sofismos e superficialidade, estamos com o véu da escuridão em nós. O momento auge da experiência de cura é a proclamação de fé em Jesus Cristo. Reconhecer que Ele é Deus e que d’Ele precisamos. É no exercício da fé e conversão que readquirimos a graça de contemplar a glória de Deus. Temos que nos decidir pelo abandono das falsas luzes, do véu de nossos julgamentos, do espírito de suspeita, da indiferença em relação ao outro, de nossa vitimização, do etnocentrismo, querendo que o outro enxergue as coisas pela nossa ótica. Temos que renunciar nossa pretensão de ocupar o lugar de Deus, renunciar em nossos corações ao pecado em suas raízes, porque, o Senhor mesmo nos diz: “Bem-Aventurados os puros de coração, porque verão a Deus!”. (Mt 5,8). 

Por fim, vamos nos deter a pergunta dos discípulos, que queriam saber o porquê aquele homem era cego de nascença: “Mestre, quem pecou, este homem ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem este homem pecou nem seus pais, mas é necessário que nele se manifestem as obras de Deus”. (3-4). Santo Irineu, Bispo do período da Patrística, na sua obra: ‘Demonstração da pregação apostólica’, nos diz: “Faz parte da obra de Deus recriar o homem. As mesmas mãos Divinas que criaram o homem, o redimiu e recriou em Jesus Cristo”. (n°33). O Senhor ao cuspir no chão, no pó da terra, fez o barro, fez como o oleiro que pega a argila e a remodela. Se revela e se cumpre na Cruz a profecia de Isaías 64,8 “E, no entanto, Senhor, vós sois nosso Pai; nós somos a argila da qual sois o oleiro: todos nós fomos modelados por vossas mãos”. 

Jesus vem ao nosso encontro, nos toca para dizer-nos que Ele é o nosso oleiro. Coloca sua saliva em nós para nos devolver a vida de Deus, o gosto do céu. Do mesmo modo, que no início o homem recebeu o sopro Divino em suas narinas, agora, o Filho de Deus nos faz reviver pela graça que saiu de sua boca.

Que a Virgem Mãe nos auxilie para acolhermos Cristo, a luz do mundo, nos purificando nesta quaresma e gradativamente possamos ir perdendo a visão mundana, adquirindo a visão da fé para podermos ver Jesus ressuscitado nos sacramentos, na Palavra, em nós e no próximo.

Texto: Emerson Alves

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