A Liturgia da Palavra desse 26° Domingo do Tempo Comum trata da conversão da fé e de como essa está intimamente unida à realização da vontade do Pai. Essa proposta encontra-se, seja na Primeira Leitura, quanto no texto do Evangelho que traz a parábola dos dois irmãos e seu pai.
A Primeira Leitura do profeta Ezequiel traz uma questão muito importante que aparece quando o povo de Israel se encontra no Exílio, isto é, quem é o culpado para tamanha desolação e castigo? O provérbio comumente utilizado, nesse período, era o que dizia: “os pais comeram uvas azedas e os dentes de seus filhos se estragaram?” (Ez 18,1-2). Na verdade, os filhos de Israel queriam encontrar um culpado para o fato de estarem exilados na Babilônia, no intuito de não assumirem as suas próprias responsabilidades. Essa é uma atitude muito comum em nós, temos dificuldades de assumir as responsabilidades e consequências de nossos atos, e ficamos sempre a procura de um “bode expiatório”, ou seja, alguém a quem devemos culpar.
No entanto, o Profeta chama à atenção do povo e repropõe a questão, trazendo sobre cada um a própria responsabilidade sobre a sua conversão e vivência da Fé, fazendo com que todos questionassem o seu modo de agir e viver. Para o profeta, professar a fé, que nasce da conversão ao Senhor, significa assumir as suas próprias responsabilidades e tomar a direção da própria vida, conduzindo a sua estrada segundo os desígnios de Deus e segundo a sua vontade.
O texto do Evangelho desse domingo traz uma parábola que precisa ser bem compreendida, a fim de que não seja lida de modo simplista ou até reduzido. Os dois filhos, (cf Mt 21,28) por vezes foram compreendidos como sendo, de um lado os judeus e do outro os recém-convertidos ao cristianismo nascente. De fato, não é o interesse do evangelista problematizar essa relação já bastante conturbada, visto que, muitos dos judeus, não aceitavam o fato de que, os recém-convertidos poderiam ter a mesma acolhida que eles, algo presente no Evangelho do Domingo passado, dos trabalhadores da vinha.
Todavia, a questão de fundo é, quem seria o verdadeiro fiel, discípulo de Cristo, aquele que professa a Fé, mas não cumpre a vontade de Deus. O Pai dirigi a palavra ao primeiro dizendo: “Filho vai hoje trabalhar na minha vinha! o filho respondeu: Não quero. Mas mudou de opinião e foi”. (Mt 21,28-29) Dirigindo-se ao segundo filho, o pai disse a mesma coisa, esse filho respondeu: “Sim Senhor, eu vou, mas não foi” (Mt 21,30)
Nesse caso e manifesto que os dois tem fé, pelo fato de serem Filhos do Pai, o que Jesus questiona não é a falta de fé, mas a profissão de fé que não é acompanhada da realização da vontade de Deus. Neste caso, a união íntima entre a profissão de Fé e a realização da vontade do Pai é um ponto fundamental no Evangelho desse Domingo, isto é, a fé professada e vivida, como se conhece muito bem: Fé e Vida. Em outro texto, do Evangelho de Mateus, Jesus questiona aqueles que chegam até ele chamando-o de: Senhor, Senhor e dizendo que tinham realizado milagres e expulsado demônios. O Senhor os repreende e os afasta de Si, dizendo não os conhecer, pois, apesar de realizarem tais obras, a sua conversão não estava na realização da vontade do Pai, mas, na busca de sua própria glória. Desse modo, é claro que a profissão de Fé verdadeira deve vir acompanhada do empenho em realizar a vontade de Deus, da vivência dos valores do Evangelho, de trazer em si, na própria vida as escolhas de Cristo Jesus.
Texto: Vitório Evangelista