Realizando seus sonhos. É assim que está atualmente o ex-acolhido da Comunidade Terapêutica Acolhedora Reviver, Leonardo Miranda Dias, de 44 anos, que viajou para a praia nesse mês de janeiro. Esta cena jamais poderia ser vista se ele não tivesse se libertado das drogas com o apoio da Comunidade Terapêutica Acolhedora Reviver.
Leonardo, que hoje trabalha como auxiliar de serviços gerais em uma escola estadual e como motoboy para ter uma renda extra, completou em 2021 quatro anos de sobriedade. Ele entrou na Reviver no dia 24 de abril de 2017 e conta que se não fosse pela internação, não sabe onde estaria hoje. “Eu cheguei a ter duas overdoses. Já tinha sido internado antes em outras clínicas, mas eu sempre recaía depois que saía. Não conseguia mudar de vida”, relata.
Adolescência
Durante sua adolescência, o ex-acolhido morava no complexo da Serra, em Belo Horizonte, e aos 14 anos já começou a trabalhar. Foi com 16 anos que começou a fumar maconha e um ano depois estava usando crack, além de beber. “Eu usei por curiosidade, na época era mais escondido, a gente não via as pessoas na rua usando como é hoje. Me ofereciam e eu aceitava, era muito fácil conseguir. Usei crack dos 17 até os 40 anos”, conta Leonardo.
De acordo com ele, até um certo tempo ele conseguiu conciliar o vício com o trabalho, mas foi ficando cada vez mais difícil. “Alguns colegas de serviço até tentavam me ajudar a parar. Eles ofereciam que eu dormisse no serviço, para não ter que ir na rua, mas não funcionava”.
Em sua casa, as coisas não eram muito melhores. Apesar de nunca ter te faltado nada, Leonardo não tinha uma boa relação com seus irmãos – que também eram dependentes químicos – e sua mãe, e seu pai acabou falecendo quando ele já estava viciado “Antes eu culpava muitas coisas. Sentia que era excluído por ser irmão do meio. Então eu culpava minha família. Hoje sei que a culpa foi da minha curiosidade, que pra mim parecia legal ver os outros rindo quando estavam sob efeito de droga”, relata.
Reviver
Após enfrentar muitos problemas de saúde por causa do abuso de drogas, o auxiliar de serviços gerais decidiu que era hora de mudar de vida. Ao saber que seu irmão tinha sido internado na Reviver, ele ligou para a mãe e perguntou se poderia ser acolhido também. “Por já ter passado por outras internações eu sabia que o que eu mais precisava era um lugar de paz e de tranquilidade para conseguir enfrentar meu vício”, aponta.
De acordo com ele, durante o tratamento, ele ficava pensando no que queria que sua vida se tornasse e o que poderia fazer para mudar. “Graças a Deus eu nunca pensei em desistir. Eu fico triste quando vejo alguém falando que o tempo na Reviver é muito difícil, lá é bom demais. Viver lá é muito fácil. Eu sempre volto quando posso, porque a paz que tem lá, parece um pedacinho de céu. E lá a gente conversa com quem entende a gente. Os conflitos são pequenos em comparação com os conflitos que a gente tem quando está usando droga”, destaca.
Enquanto estava na Reviver, a mãe de Leonardo sofreu um infarto. Para ele, esse foi um dos momentos mais difíceis. “Eu fiquei muito angustiado. Perguntei se poderia ir no hospital, mas vi que era melhor continuar o tratamento e mostrar para minha mãe que eu estava me curando”, conta.
Nos seus dias na fazenda, o ex-acolhido ajudava com os animais e na serralheria, e jogava bola com os outros internos. Ele concluiu o tratamento no dia 24 de outubro de 2017 e, antes da pandemia, sempre fazia uma visita. “Eu tirava folga do meu trabalho e ia para lá e ficava conversando com os acolhidos. Eu sou um ex-acolhido e me sinto igual a eles. Ainda sinto que estou em tratamento e vai ser assim para a vida toda”.
Nova Vida
Após sair da Reviver, Leonardo foi morar com sua mãe em Justinópolis, bairro de Ribeirão das Neves, região Metropolitana de Belo Horizonte. “Fiquei dois anos morando com minha mãe e foram os anos mais felizes da minha vida. Infelizmente ela faleceu, mas eu fui muito grato por esse tempo com ela, por ela ter conseguido me ver livre das drogas. Cheguei até a ligar para o Pernambuco, buscando apoio, tive medo de recair. Eu ia para a igreja e rezava por ela e por mim, para que eu permanecesse forte. E foi o que Deus fez, me senti fortalecido e consegui aceitar a morte dela, sem muito sofrimento”, relata.
Se antes Leonardo tinha pressa para receber seu salário e conseguir comprar drogas, hoje ele não sente urgência nenhuma. Ele destaca: “Eu gastava dinheiro feito louco, mas agora eu exercito o autocontrole. O que mais me ajuda a ficar de pé hoje em dia é a oração, estar próximo de Deus e entender os meus limites. Hoje penso mais nas minhas decisões, se aquilo vai ser bom para mim”.
Depois que saiu da Reviver, o ex-acolhido conta que retomou os estudos e se formou no ensino médio, tirou a carta de habilitação e comprou uma moto, que utiliza para trabalhar como motoboy. “Eu fiquei dois anos sem sair na rua a noite. Não tinha nada para eu fazer, eu não ia para os bares, então era melhor ficar em casa e não dar chance para a tentação”.
Contudo, a permanência no caminho da sobriedade não é fácil. “Eu sinto vontade de usar até hoje. Tem vezes que eu estou parado e vem na minha mente, e eu luto contra isso. Vou vivendo a vida um dia após o outro e procuro sempre estar trabalhando. Escolhi me manter longe do que faz mal. A paz de espírito é muito boa e prefiro meu sossego”, comenta.
CAMINHO A PERCORRER
“Apesar de tudo o que recuperei na minha vida, ainda não tenho uma relação muito próxima com minha família. Uma parte de mim é muito feliz, a maior parte. A sobriedade me traz tranquilidade, equilíbrio emocional, caráter e dignidade. Por outro lado, eu sou triste porque praticamente não tenho família. Não sou muito próximo do meu filho, a gente se dá bem, mas ele mora com a mãe na Serra, que é dependente química”, relata Leonardo.
Em janeiro, Leonardo viajou para praia, e pretende continuar conhecendo novos lugares e das próximas vezes, levando o filho com ele. “Para ter um bom relacionamento, é necessário que as duas pessoas queiram se dar bem. Eu respeito o tempo de cada um em conseguir se aproximar, mas o que eu posso fazer, eu faço”, afirma.
Fé
O ex-acolhido conta que foi na Reviver onde encontrou seu caminho no amor de Deus. “Depois que terminei o tratamento fiquei dois anos rezando o terço todos os dias. Eu ainda vou para a igreja e quando estou em casa coloco louvores para ouvir. Eu agradeço a Deus todos os dias, pela força que me dá, por saber que eu tenho liberdade. Sempre converso com ele, quando tem alguma situação. Eu não fico aflito mais, coloco nas mãos Dele”, conta.
Para ele, é necessário saber esperar e ter a sabedoria de confiar em Deus. “Quando a gente tem fé no Senhor, as coisas acontecem. Eu tive fé que conseguiria me libertar das drogas e consegui, pois eu tudo posso naquele que me fortalece”, conta.
Acredite!
Para quem ainda não encontrou as forças necessárias, ou que não acredita na eficácia do tratamento, Leonardo tem uma mensagem:
“O que tem me deixado de pé é ter certeza de que Deus é justo e com oração e perseverança, a gente consegue se curar. Nós precisamos ser honestos com nós mesmos e perceber a situação em que estamos.
O tratamento da Reviver funciona muito, porque a fazenda é um lugar onde a pessoa consegue ter paz, refletir sobre a vida, as escolhas ruins do passado, e enxergar um futuro melhor. Lá a gente tem espaço e tempo para fazer isso e apoio para entender nossas fraquezas.
Eu fui muito bem tratado e respeitado. Lá dentro todo mundo é igual, não te criticam, a gente consegue dividir nossos problemas e encontrar força um no outro. Para quem realmente quer ser curado, não tem como não dar certo. Depende de cada um de nós, acolher Deus no coração e se fortalecer nesse amor. Nada nessa vida é impossível, mas não é fácil”.
Confira o vídeo de seu testemunho: