A liturgia do trigésimo domingo do Tempo Comum propõe uma reflexão sobre a forma como Deus exerce a sua Justiça. Ele não ignora o sofrimento dos mais pobres, fragilizados que, nem sempre, obtêm a justiça nos tribunais dos homens. A Sua justiça se concretiza pelo amor incondicional que dedica a todos, homens e mulheres, sem distinção.
No Evangelho Jesus ensina os discípulos uma lição sobre orgulho e arrogância. No Templo de Jerusalém estão dois homens, que estão ali para rezar, um fariseu e um cobrador de impostos. São pessoas totalmente diferentes entre si e pertencentes a grupos sociais e religiosos distintos, dentro da comunidade de Israel, na época.
O fariseu está de pé à frente do altar fazendo sua oração. Não reza em voz alta, mas, ora interiormente, como era costume israelita. Na sua oração a Deus, o fariseu louva e agradece por ser quem é e por viver como vive: Conforme o costume jejua duas vezes por semana, paga o dizimo de tudo quanto possui. Sente que o seu compromisso com Deus o coloca acima dos outros homens, pecadores notórios, como por exemplo aquele cobrador de impostos, que, a uma certa distância, atras dele, também está rezando e que é um ladrão e explorador do seu povo. O fariseu tem consciência de que leva uma vida integra e que cumpre integralmente o que diz a Lei, ou, até mais do que é exigido.
O cobrador de impostos, por sua vez, entra envergonhado no espaço do Templo para, também, fazer suas orações. Provavelmente não se aproxima de onde está o fariseu rezando, ficando longe dele, para não ser muito visto e, também, porque não se considera digno de se aproximar de Deus, mais próximo do altar. Sabe ser difícil se colocar frente a frente com Deus, pois, nunca conseguirá devolver todo o dinheiro que roubou dos pobres, enquanto recolhia os impostos. Mantém a cabeça baixa, sem se atrever a levantar os olhos e, bate no peito, para mostrar arrependimento. Tem consciência da sua fragilidade humana. Na sua oração não se compara com outras pessoas, apenas reconhece o seu pecado e invoca a misericórdia de Deus. Não tem obras no serviço de Deus para apresentar, porque não as possui. Só pode confiar na compaixão do Pai …” Meu Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!” ….
Jesus observa que o cobrador de impostos entrou no Templo arrependido e, por isso, perdoado, ao contrário do fariseu. O fariseu se apresenta diante de Deus numa atitude de orgulho e arrogância. Ao cumprir as exigências da Lei considera-se conciliado com Deus. Acha que não precisa da misericórdia de Deus para nada, pois, as obras que faz obrigam Deus a oferecer-lhe a salvação. Esta não é um dom gratuito, fruto da bondade de Deus, mas uma conquista do homem, o resultado do esforço do homem. O Deus que o fariseu conhece é apenas um contabilista que anota as ações do homem, em um livro que registra débitos e créditos, e, que, no final lhe paga conforme seus méritos. Aquele fariseu está cheio de orgulho e de arrogância. Não necessita da misericórdia de Deus porque, por seus próprios méritos, pensa ele, os seus feitos são suficientes para se salvar. Também, por sua prepotência, sente desprezo pelos outros irmãos que não são como ele. Considera-se superior e mais importante diante de Deus, como se entre ele e o pecador existisse uma barreira.
Infelizmente este é o caminho para, em nome de Deus, se criar a exclusão e o preconceito. Esta conduta condenável cria a religião elitista, separatista, a religião dos méritos. O cobrador de impostos não pode contar com seus méritos, porque, aliás, não os possui. Ele apresenta-se diante de Deus de mãos vazias e, sem quaisquer pretensões; reconhece suas falhas e a sua incapacidade de, por si só, rompe-las. Ele entrega-se confiante nas mãos de Deus e pede-Lhe compaixão, Sabe que só Ele poderá salva-lo e Deus o perdoa, isto é, derrama sobre ele a sua graça e seu amor misericordioso, porque ele não tem o coração cheio de orgulho e está disposto a aceitar a salvação que Deus oferece a todos os homens e mulheres.
“Quem se eleva será humilhado e quem se humilha será elevado” é o que Jesus quer ensinar no evangelho de hoje. Não se pode confiar, somente, nos próprios méritos e nas boas ações praticadas, exigindo que Deus retribua pela fidelidade, pelo bom comportamento. A vida verdadeira se alcança com humildade, reconhecendo sua fragilidade humana e se apresentando humildemente diante de Deus. Este é o verdadeiro caminho da salvação.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Dalva Pereira Silva Soares