“Vimos o Senhor” (Jo 20,25)
Estamos celebrando o segundo domingo da Páscoa (07). A leitura do evangelho, inicia-se dizendo: “Ao anoitecer daquele primeiro dia da semana”, (Jo 20,19) ou seja, era o final do dia, início da noite do domingo da ressurreição. Este horário é muito sugestivo: “anoitecer”, não era ainda noite, mas já o sol havia se escondido. O Sol de Deus, se escondeu, no seio da terra.
É bom lembrar que no domingo, antes do amanhecer, Pedro e João foram ao túmulo, avisados por Maria Madalena que a pedra estava rompida e o corpo do Senhor não estava lá. O sol nasceu no Leste, iluminou todo o dia, se pôs no Oeste, e os discípulos permaneceram na penumbra da ressurreição, a vitória de Jesus sobre a morte ainda não estava clara para eles. Tinham sinais importantes dessa vitória, a Palavra da Igreja, simbolizada em Pedro e João, que já nesse momento se juntavam ao testemunho dos discípulos de Emaús
O texto continua a narrativa: “Estando as portas fechadas, por medo dos Judeus”. (Jo 20,19b). Esse anoitecer e as portas fechada por medo dos judeus, nos remete à experiência dos discípulos de Emaús, que disseram para Jesus: “Fica conosco, já é tarde e o dia já declina”. (Lc 24,29) Vejam, eles não estavam preocupados com onde o “forasteiro” ia passar a noite, o que eles queriam era a companhia dele, que os tinham aquecido o coração com sua palavra.
Os discípulos passaram todo o dia trancando as portas, por medo dos judeus, querendo a presença de Jesus. Quantas vezes Pedro e João não repetiram para eles, a cena do sepulcro vazio, dos panos dobrados? Quantas vezes João disse para eles “eu vi e acredito”. Eles permaneceram na penumbra, sofreram com o medo por não acreditar na Palavra da Igreja!
Logo em seguida, Jesus se manifesta a eles, pondo-se no meio deles e dizendo: “A paz esteja convosco”. Manifestou com palavra e sinais: “Mostrou-lhes a mãos e o lado”. Isso fica bem claro para nós, que Jesus ressuscitado se revela Pela Palavra e pelos sacramentos, ambos exigem de nós o exercício da fé.
O mesmo acontece com Tomé. Ele não estava presente nesse momento, então o colégio dos apóstolos que tinham visto o Senhor disse para ele: “Vimos o Senhor!” (Jo 20,25)
Ao que Tomé respondeu: “se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei”.
Será que Tomé deixou de acreditar em Jesus? Claro que não, mas o erro dele foi grave, porque não acreditou na palavra dos seus irmãos, bispos como ele, não acreditou na Igreja, duvidou dos sinais (sacramentos) e queria pôr o dedo para certificar que era verdade.
No domingo seguinte, Jesus se manifesta aos apóstolos novamente, agora com a presença de Tomé, a quem Jesus se dirige com exclusividade: “Põe o teu dedo aqui e olha minhas mãos. Estende tua mão e coloca no meu lado. E não seja incrédulo, mas fiel”. (Jo 20,27).
Uma coisa aprendemos no Evangelho do segundo domingo da Páscoa. O conteúdo do Evangelho que anunciamos, é o que a Igreja chama de mistério da fé, paixão, morte e ressurreição de Jesus. Para que esse anúncio aconteça, precisamos ser testemunhas, para sermos testemunhas é preciso de um encontro pessoal com Jesus, esse encontro acontece pelo anúncio desse mistério, feito pela Igreja e pela vivência sacramental.
Texto: Vitório Evangelista