A liturgia neste 33° Domingo do Tempo Comum, nos apresenta um texto escatológico, fala sobre o que ocorrerá no fim dos tempos. E, longe de falar de um situação que deva gerar em nós histeria e inquietação e qualquer sorte de medos, somos chamados a aprendermos o que é a paz e como conservá-la.
Quando se diz sobre as fatalidades e sofrimentos, seja os de guerras, destruição do templo, perseguições ou quaisquer outras adversidades, ao invés de querer gerar em nossos corações aflição e ansiedade, a finalidade do texto de Lucas 21, 5-19, mais precisamente, quando se diz: “Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (18-19), é um anúncio que precisa fazer brotar em nossos corações a mais profunda paz.
Como discípulos do Senhor, o Evangelho vem nos ensinar como enfrentar todas as adversidades sem perder a paz, e mais do que isso, na medida que os sofrimentos baterem as portas de nossa existência, sermos em meio aos sofrimentos enraizados, fecundados na genuína paz cristã.
Muitas vezes, temos uma infantilizada interpretação sobre a paz, considerando-a como consequência de um ambiente favorável, sem inconvenientes e repleto de concordâncias e aceitações de nossas vontades, e, isso pode até ser para o mundo um sinal de paz, mas de forma alguma, deve ser também para nós. A paz cristã é antagônica ao conceito de paz deste mundo. O Senhor Jesus mesmo diz: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se atemorize!” (Jo 14, 27).
O entendimento de paz mundana, como foi dito se reduz a ausência de problemas, mas, para nós trata-se de um dom de Deus, é um presente que Jesus Cristo veio nos conceder. Foi o apóstolo Paulo, que escrevendo aos irmãos de Éfeso assim nos afirma: “Porque é ele a nossa paz, ele que de dois povos fez um só, destruindo o muro de inimizade que os separava” (Ef 2,14). A paz cristã é a Pessoa de Jesus Cristo, encarnação do amor salvador e cuidador de Deus.
Para estarmos em paz, a condição essencial não são as mudanças externas, não são os convencionalismos políticos, e nem mesmo sociais, e sim a comunhão profunda com o Senhor, é a certeza de que, se lutarmos para permanecermos com o Senhor, não precisam nos afligir. Sim, para termos a paz é preciso lutar, não necessariamente contra os outros, pois, nossa guerra não são contra os homens e mulheres deste mundo, e sim, contra os principados e potestades, os espíritos malignos que querem nos destruir.
A luta deve ser travada para não darmos brechas, não deixarmos que os medos tomem conta de nossas mentes e corações. Mesmo que tenhamos diante de nós a mais terrível perseguição e oposição, maior deve ser nossa assimilação do amor cuidador da parte de Deus. Vale aqui retomar o que a palavra inspirada que norteia essa reflexão: “Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça”. A luta é contra o mundo, contra o demônio que age através do medo, mas também contra nós mesmos. Contra nossa vaidade de querer estarmos no controle de tudo, de avaliar as possibilidades de vitória por nossa pseudo capacidade.
Irmãos, lutemos contra nós mesmos, é preciso mergulhar nossos corações em Deus. Deixar que Deus cuide de nós, não termos receios diante de ameaças, contudo, aproveitá-las para fecundar em nós a paz, a certeza do cuidado de Deus. Temos que trabalhar para enraizar, ainda que no auge dos sofrimentos, nossos corações na experiência do amor Divino, pois, ao invés dos problemas tirarem de nós a paz, podem e devem servir como meios de procurarmos mais o Senhor, de assimilar profundamente sua presença geradora de paz em nós.
Texto: Emerson Alves