Alegrai e exultai, porque será grande a vossa recompensa no céu” (Mt 5,12)
Hoje, a Igreja militante nesse mundo, volta seu olhar e seu coração para o céu e enche-se de uma esperançosa alegria ao contemplar na Igreja triunfante, uma multidão que participa da glória e da plenitude do Deus Santo. “Vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, que ninguém podia contar, estavam de pé diante do trono do Cordeiro, trajavam vestes brancas e traziam palmas nas mãos”. (Ap 7,9)
A nossa fé nos ensina que somente Deus é Santo. Na Sagrada Escritura, “santo” significa, literalmente, “separado”. Deus é aquele que é separado, absolutamente diferente de tudo quanto exista no céu e na terra: Ele é único, Ele é absoluto, Ele sozinho se basta, sozinho é pleno, sozinho é infinitamente feliz.
Ele é Deus! Por isso, Santo, em sentido absoluto, Deus uno e trino, Pai, Filho e Espírito Santo. A Jesus, o Filho eterno feito homem, rezamos no glória na missa: “Só vós sois o Santo”; ao Pai, a Igreja reza na oração Eucarística: “Na verdade, ó Pai, vós sois Santo e fonte de toda santidade”; ao Espírito nós chamamos de Santo.
Mas, a nossa fé, fé essa que recebemos da Igreja, também nos ensina que este Deus santo e pleno, dobra-se carinhosamente sobre a humanidade, sobre cada um de nós, para nos dar a sua própria vida, para nos fazer participantes de sua própria santidade. Foi assim que o Pai, pleno amor, enviou-nos seu Filho único até nós, e este, morto e ressuscitado, infundiu no mais íntimo de nós e de toda a Igreja o seu Espírito de santidade.
Como é infinitamente grande a misericórdia divina: Deus, o único Santo, nos santifica pelo Filho no Espírito Santo: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!” É isto a santidade para nós: participar da vida do próprio Deus, sermos separados, consagrados por ele e para ele desde o nosso Batismo, para vivermos sua própria vida, vida de filhos no Filho Jesus! É assim que todo cristão é um santificado, um separado para Deus.
Mas, esta santidade que já possuímos deve, contudo, aparecer no nosso modo de viver, nas nossas ações e atitudes. E o modelo de toda santidade é Jesus, o Bem-aventurado. Ele, o Filho, foi totalmente aberto para o Pai no Espírito Santo. As bem-aventuranças, pregadas por Jesus no sermão da montanha, não é outra coisa senão sua própria fotografia. Jesus foi totalmente pobre, totalmente manso, totalmente puro e abandonado a Deus no pranto, na fome de justiça e na misericórdia. Então, ser santo, é ser como Jesus, deixando-se guiar e transformar pelo seu Espírito em direção ao Pai. Esta santidade é um processo que dura a vida toda e somente será pleno na glória. São João nos fala disso na segunda leitura de hoje: “Quando Cristo se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é”. (1Jo 3,2)
A santidade se vive na vida cotidiana, pois nela Deus nos manifesta sua vontade e seu amor. Para isso não é necessário buscar meios extraordinários, mas viver o ordinário do dia a dia de maneira extraordinária.
Santidade e refletir no cotidiano da vida a vida do próprio Jesus. Em 1609, São Francisco de Sales, bispo de Genebra, pela primeira vez na literatura cristã, se explicava e se discutia a noção de vocação universal à santidade em um pequeno livro que se tornou best seller, “Introdução à vida devota” ou “Filoteia” (A alma amiga de Deus). O grande objetivo do santo é mostrar que se pode viver no mundo, no meio das preocupações, adversidades, ocupações da vida, e ser santos! Trata-se, para ele, de um ideal a conquistar. Por isso não pode ser fuga do mundo, mas um desafio e ao mesmo tempo aproveitar as belas oportunidades que a vida nos oferece para conquistar a santidade. Por isso mesmo, devemos nos concentrar no essencial da vida cristã, que é viver e experienciar o amor de Deus.
A Constituição “Lumen Gentium”, no capítulo 5º, trata da “vocação de todos à santidade na Igreja”. Viver a santidade no ordinário da vida é um pressuposto fundamental para a Igreja realizar a sua missão. O Papa Francisco, ao escrever a “Gaudete et Exsultate”, sobre o chamado à santidade no mundo atual, fez uma atualização da “Filoteia” de são Francisco de Sales.
Olhemos para o céu: lá estão Pedro e Paulo, lá estão os Doze, lá estão os mártires de Cristo, os santos pastores e doutores, lá estão as santas virgens e os santos homens, lá estão tantos e tantos – uns, conhecidos e reconhecidos pela Igreja publicamente, outros, cujo nome somente Deus conhece; lá está a Santíssima e Bem-aventurada sempre Virgem Maria, Mãe e discípula perfeita do Cristo, toda plena do Espírito, toda obediente ao Pai. Eles chegaram lá, eles intercedem por nós, eles são nossos modelos, eles nos esperam.
Celebrar e contemplar hoje todos os santos é recordar para onde vamos e qual é o sentido da nossa vida! Não tenhamos medo de ser de Deus, não tenhamos medo de testemunhar o Evangelho, não tenhamos medo de alimentar nossa vida com Pão da Eucaristia e o Pão da Palavra para sermos inebriados da vida do próprio Deus.
Eles roguem por nós, pois o que eles foram, nós somos e o que eles são, todos nós somos chamados a ser.
Todos os Santos e Santas de Deus, rogai por nós!
Texto: Vitório Evangelista