O evangelho deste sétimo domingo do Tempo Comum coloca-nos diante da essência do amor cristão: amar ao próximo, mesmo sem ser amado. Quando o Senhor Jesus Cristo nos diz: “Amai os vossos inimigos e fazei bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam” (27-28), ele não nos ordena a algo que devíamos estranhar, pois, o que dito é propriamente a verdade do amor cristão.
Quando trazemos essas ordens do Senhor e as confrontamos com a nossa realidade de fé e também com a nossa dimensão humana, devemos refletir, com possibilidade e intenção de fazermos penitencia, ao ponto de reconhecermos: pode ser que não conheçamos verdadeiramente Jesus Cristo, pode ser que o amor do Senhor não nos tenha envolvido como forma de determinar as nossas condutas.
Não podemos apenas chegar a constatar o que nos falta e ficarmos passivos, indiferentes, considerando-nos incapazes de cumprir o que o Senhor nos manda. Porém, o único meio para que tamanha graça seja por nós testemunhada é através da nossa sensibilidade de fé ao amor que o próprio Cristo Jesus destina a cada um de nós.
É preciso assumir a própria miséria, a nossa condição de profundos pecadores, mas, acima de tudo amados ao extremo pelo Senhor. Os nossos pecados nos tornaram inimigos de Deus, sim é isso mesmo, nós pela nossa desobediência éramos inimigos do Senhor, mas, Deus aí nos amou. Em nossa condição de escravos do pecado, fomos acolhidos pela misericórdia Divina. É o que nos mostra a Carta de São Paulo aos romanos: “Se quando éramos ainda inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho” (Rm 5, 10a). A sensibilidade de fé diante dessa revelação precisa gerar em nossos corações o constrangimento, o sentimento de gratidão ao imenso amor de Deus e a decisão por transmitir aos outros, o que de graça recebemos.
Tomar a decisão em amar o inimigo é algo difícil, mas, paradoxalmente natural ao genuíno amor cristão. O que hoje devemos nos convencer pelo Espírito Santo é que antes de nos mandar amar os inimigos, somos amados por Deus, mesmo com os nossos pecados. Se faz preciso, deixar-se envolver, perpassar em todo o nosso ser pelo amor de Jesus Cristo, á ponto de em nós, através de nós Cristo poder amar o nosso próximo. Temos que mais do que qualquer coisa usar como discernimento, como parâmetro para saber se estamos ou não vivendo e assumindo a nossa condição de filhos de Deus pela prática do amor que recebemos de Jesus Cristo, o Filho de Deus que nos torna filhos de Deus. Para concluir, é o distintivo que devemos observar para sermos autênticos filhos de Deus. “Então, a vossa recompensa será grande, e sereis filhos do Altíssimo, porque Deus é bondoso também para com os ingratos e mais” (35b)
Texto: Emerson Alves
Imagem: FreePik